domingo, 25 de março de 2007

Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos



Li poucas coisas tão pungentes quanto esse poema. A sensação que vem primeiro é a de ondulação, mistura ordenada de sons fluindo no fundo de um poço escuro.
Esses versos não saem da minha cabeça. 2h41, tenho de dormir.


Sorte no lado escuro do peito
é o jeito de ser do alguém
Escrita automática, idéias confusas
meu jeito de ser é o aquém

Dó de mim

Juro que não vou mudar
Juro que vou esperar
dentro do lado escuro do peito

Juro que não vou mudar
Juro que vou esperar
Sempre vou ser assim do meu jeito.


Talvez tenha um ouvido meio musical, pra coisa mesmo. Talvez seja só vontade de ser algo que não posso. Por que escrevo sempre de madrugada? É a melhor hora. Ninguém me lê, tenho minhas liberdades todas no escuro do meu lar. As pessoas dormindo e eu escrevendo, sangrando pelos dedos e nem sempre criando algo que tire um sorriso meu nem mesmo numa primeira e empolgada leitura. Às vezes acho que não levo mesmo jeito pra coisa.

Não agüento parar mais as coisas pela metade.

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